Terra de Elas


O cenário – uma capital europeia, em um outro tempo que não esse que a pressa reina.
As ruas eram largas, de pedras.

À frente de uma igreja, na praça que parecia ser central, onde as pessoas se encontravam, havia uma pequena mercearia. Curiosa pela pequeneza da porta ela entra e encontra três mulheres e uma pequena menina, de aproximadamente seis anos. Cabelos clarinhos e cacheados. Vestia um vestido azul marinho, parecia estar preparando-se para um acontecimento importante.

As adultas em volta da menina tentavam ornar o seu cabelo. Uma delas abriu uma gaveta de madeira e retirou uma fita extensa de cor azul, um azul cintilante, lindo.
Ela, num canto, a testemunhar cada movimento e cuidado que acontecia ali. Havia um entusiasmo no ar.

A mais velha, mede um pedaço da fita e corta um pedaço para iniciar um grande laço de cabelo.
Preenchida por aquela atmosfera de preciosismo e cuidado, ela deixa a loja e volta a caminhar pelas ruas de pedras. 

Desta vez, sua atenção é chamada por um café, o cheiro era tão familiar que resolve entrar e pedir um, acompanhado com um pão com manteiga. 
Foi (alegremente) surpreendida por só haver mulheres ali dentro, de todas as idades. Elas conheciam-se todas, sabiam de suas vidas. Ela apenas observava... 
No ar, misturado com o aroma de café, podia sentir o cuidado entre elas, e uma celebração em cada “causo” que compartilhavam... 

Satisfeita por participar desse doce momento, saiu acompanhada de uma dessas mulheres. Alta, morena, cabelos ondulados, olhos esverdeados e profundos. Ela a conduzia com doçura e confiança. Essa gentil senhora a deixou em frente de um local, preferiu não entrar. 

Ela se sentido atraída por aquele misterioso lugar. Um espaço amplo e claro. 
Dentro, ela encontra um rapaz, talvez o único que tinha avistado até aquele momento. Ele parecia estar à sua espera. 
Moreno, alto, bem vestido e carregando uma caixa de filmes antigos, todos enfileirados, parecia até ter alguma ordem ali... 

Ela surpresa segura a caixa, que parecia estar pesada, ele a ajuda. E conforme ela olha cada título, é como se a pressa do rapaz aumentasse... Sua mão esquerda se entranha no cabelo longo dela, com uma força protetora, e uma doçura que o apressava. 
Era como ele aguardasse até que ela chegasse, com o olhar, a um certo ponto da sua caixa de filmes. 

Ela, ao chegar na metade da caixa, encontra um papel surrado, pequeno e amassado. A ansiedade do rapaz é nítida. 
É como se ela soubesse o teor daquele bilhete e se demora...
Ele se aproxima mais... Ela o abre, mas as letras estão escritas com um lápis muito fraco, ela cerra os olhos e dirige-se para a única fonte de luz que havia no local, uma janela grande que dava para um jardim de margaridas.

Ele a acompanha.

O bilhete começava com "querida", o coração dela altera seu ritmo, um calor invade o seu corpo, o ar parece faltar e a mão suar... Ela sabia o que ali estava. Ela esperou por anos!
As poucas linhas que sucediam foram clareando, conforme a ânsia de terminar a leitura.

- Acordei com o peito acelerado, respirações curtas -

Mas justo agora? Até tentei acalmar os batimentos cardíacos e voltar para aquele não-espaço, afinal o bilhete não estava lido por completo.
Tentativa em vão...

Em mim, ficou apenas a curiosidade e um palpite que ali continha o maior segredo revelado entre os dois, que tinham pressa em amar, naquela Terra de Elas.


Comentários